Esquadrão Suicida: Chute na Cara | Crítica

22:07:00



 Matheus R. B. Hentschke

Chegando às bancas no hype do filme (dessa vez a Panini finalmente acertou o timing de lançamento), Esquadrão Suicida: Chute na Cara parece ter sido o livro de cabeceira que David Ayer usou como inspiração para sua controversa visão para a película. Contudo, a hq representa mais a versão que foi tolhida pela Warner do que aquela apresentada nos cinemas que convenhamos, apesar de eu ter me divertido bastante, faltou estofo para ser um filme memorável.

Chute na Cara, apresenta a sinopse corriqueira do Esquadrão: um grupo de criminosos, a fim de abater suas penas, realizam missões para o governo, sempre com nanobombas implantadas em suas cabeças para evitar à deserção. O núcleo inicial formado por Pistoleiro, Arlequina, Aranha Negra, Tubarão-Rei, Diablo, Voltaico e Savant já mostra de início que tem as características necessárias para que o conceito original dessa equipe funcione: o fato de cada membro ser descartável e passível de morte.


Além disso, um estilo mais gore aparece frequentemente, como na cena inicial de tortura sofrida pelo grupo e algumas mortes a sangue frio que dão a hq o tom correto.Tal ideia é acrescida ainda mais com um recurso usado por Adam Glass (Supernatural e Cold Case), o fato de as nanobombas não poderem ser ativadas apenas a distância, mas também por um timer já pré-estabelecido antes de cada missão, trazendo uma corrida contra o tempo análoga à de filmes como O Preço do Amanhã. 

Nesse aspecto, a hq já começa com um pé à frente de sua respectiva obra cinematográfica, visto que o elenco formado por atores de altos cachês não está presente e a sensação de real vulnerabilidade existe a todo o momento. Spoiler Alert: Nesse quadrinho não tem nenhum Amarra, em que as campanhas de marketing já gritavam a respeito da nulidade do personagem e da sua morte precoce.



























Com certeza, os personagens são a alma dessa história em quadrinho e a falta de uma no respectivo filme, já que as relações construídas nessa hq apresentam coerência e timing corretos, em que vilões são vilões, não sendo atenuados a meros anti-heróis. O Pistoleiro, por exemplo, faz o necessário para acabar a missão seja ao trair seus companheiros, seja ao ser o mais frio para abater a sua pena e encontrar a sua filha. No filme, ele apresenta devaneios heróicos e resolve salvar o dia para servir de exemplo a sua filha, fato que quebrou a verossimilhança interna da história. 

Mas, não me interprete mal, o filme tem sim personagens com enorme potencial, mas que, por decisões superiores, acabaram por ocultar suas reais facetas, ao não mostrar toda a sua vilania. O Coringa, o problema-síntese do filme, virou um mero gângster afetado e sem a sua real maldade e apreço pela dor que todos esperavam ver em tela; já na hq, é bem elaborado tanto os personagens do esquadrão, quanto o Palhaço do Crime, em sua breve aparição, que acaba por deixar o leitor com uma dúvida: será que se David Ayer conseguisse entregar o filme que ele queria - saiba mais - não teria mais estofo como nessa hq? Creio que sim. 

Outra forte reclamação da película foi o enredo, que além de não ter coragem de mostrar personagens desempenhando a sua real função de vilões, também possuía uma trama frágil e genérica. Entretanto, na hq, Adam Glass consegue, mesmo sem criar antagonistas inesquecíveis, acertar ao entregar uma história bem encadeada em que edição após edição os problemas enfrentados pela equipe somente se avolumam e em que sucessivos links instigam o leitor em proceder com a sua leitura.

Em resumo, se você estava empolgado com o filme do Esquadrão Suicida e quando assistiu pensou que poderia ser melhor, essa hq é para você. Aqui realmente a promessa se concretiza e até mesmo personagens que deram certo nas telas de cinema, como a Arlequina, aqui são melhor desenvolvidos. É impossível terminar essa leitura sem dar uma boa risada de alguma loucura da mais popular palhaça do crime. Altamente recomendável.


Nota: 7,0 / 10

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