Animais Noturnos (Noctural Animals, 2016) | Crítica

18:22:00







Matheus R. B. Hentschke

Antes do início da temporada de premiações, muito se é especulado sobre quem irá decolar ou fracassar no período. Amy Adams, que já foi indicada ao Oscar 5 vezes sem levar nenhuma estatueta para casa, foi alvo de forte expectativa acerca de seus 2 badalados novos filmes: A Chegada (Denis Villeneuve, 2016) e Animais Noturnos (Tom Ford, 2016). 

Infelizmente, no primeiro caso a espera não se cumprirá, visto que o superestimado diretor canadense entregou mais uma obra mediana, com poucas possibilidades para a atriz, ainda que desponte em premiações como um dos indicados em diversas categorias técnicas e talvez em mais uma indicação a Adams, mesmo que tenha poucas chances de vencer. De fato, Denis Villeneuve sabe cativar mesmo sendo um excesso tudo o que já dizem dele. Já na obra de Tom Ford, as falhas narrativas possivelmente impedirão mais uma vez a consagração de uma atriz que merece ter mais reconhecimento pela Academia há tempos. Só que não será nessa temporada novamente. Ainda assim, a obra de Ford possui qualidades a serem destacadas.


Animais Noturnos parte inicialmente do ponto de vista de Susan (Amy Adams) uma renomada curadora de uma galeria de artes que se encontra em um abismo emocional: seu marido Walker (Armie Hammer) já não mais a deseja, suas exposições já não lhe agradam mais e a fazem duvidar de sua competência e o vazio existencial parece uma constante para aquela mulher que vive em um meio social elevado economicamente, mas distante de emoções verdadeiras. Nesse contexto, a personagem recebe de seu ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal) seu mais novo livro que irá permear a película intercalando com a vida de Susan.

Enquanto no primeiro ato, a troca entre o enredo do livro e a própria história de vida de Susan parecem funcionar, com Tom Ford revelando uma ousadia já em seu primeiro plano com a dança de mulheres obesas nuas e posteriormente com a apresentação da vida nos meios sociais em que o próprio diretor/roteirista passeia; paulatinamente nota-se a dificuldade de Animais Noturnos em saber jogar com esses dois enredos distantes. Torna-se notório que a personagem de Adams começa cada vez mais a sobrar na trama, aparecendo somente para dar um significado abstrato àquele livro de seu ex-marido.

A apatia e a vingança são temáticas exploradas inicialmente de maneira sutil e posteriormente com excessos. Assim como Tony, o personagem central do livro também interpretado por Gyllenhaal, Susan mostra-se inerte, passiva para atuar em sua vida e alterar o seu fatídico destino. Para Tony, sua apatia leva-lhe a uma dura perda externa, já para Susan, a perda de seu eu interior. Todo esse enredo converge para um ato de vingança, na qual as sutilezas são postas de lado e o refino com que Ford vinha tratando sua obra é abandonada para abraçar o previsível e o banal já a partir do segundo ato.




Bem é verdade que o diretor conhece a linguagem cinematográfica e sabe produzir cinema de qualidade, conseguindo, por vezes, dar ares autorais, utilizando-se da estética que ele domina em sua profissão de origem como estilista, com figurinos e cenários cooptados de um estilo Vogue, porém seu roteiro decrescente culmina em sensações mistas, de se ter visto algo que poderia ter sido memorável, mas que ficou faltando. Cenas como a do confronto na estrada relatada a partir do livro e o acompanhamento sonoro da trilha de Abel Korzeniowski revelam o verdadeiro potencial de Animais Noturnos e de seu idealizador Tom Ford, que inclusive lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro, uma pena essas qualidades não terem sido mais abrangentes do que apenas momentos.




Seus atores tem peso e o diretor consegue extrair bons momentos deles: Jake Gyllenhaal, Aaron Taylor-Johnson e Michael Shanon cumprem com eficiência seus papéis na ficção interna do filme, ainda mais Gyllenhaal que interpreta dois personagens e Johnson, que entrega a melhor performance de sua carreira. Amy Adams também consegue manter um nível de atuação na qual o público está acostumado a ver, contudo sua trama fragmentada e desinteressante acaba por limitar os voos da atriz. É uma lástima, mas parece que Animais Noturnos será apenas indicado a prêmios, quando poderia estar vencendo-os.



Nota: 7,5 / 10



Trailer:



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