Armas na Mesa (Miss Sloane, 2016) | Crítica

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Matheus R. B. Hentschke

No foco narrativo, está Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma lobista em franca ascensão, que luta para passar um projeto de lei de controle às armas no congresso norte-americano. Nesse plano, a obra de John Madden (Shakespeare Apaixonado, 1998) opta por um estudo de personagem, tendo em Sloane uma workaholic, exímia em seu ofício, mas distante de uma interação interpessoal saudável. 

Tudo em sua vida é calculado para gerar o efeito certo, a fim de atingir seus objetivos. A protagonista pode ser vista pela óptica de um Frank Underwood, com seu pragmatismo implacável, combinado com um Dr. House, com sua personalidade singular e sua genialidade ímpar. Aliás, está comparação entre Sloane e os protagonistas dessas séries não é uma mera simplificação. Armas na Mesa não apenas coopta sua personagem central de um amálgama de características existentes em outros personagens, como também constrói sua narrativa de maneira semelhante. Contudo, isso não ocorre organicamente.


A narrativa tenta ser dinâmica, com diálogos ágeis e sagazes (por vezes quase ininteligíveis), com múltiplos plot twists ocorrendo em sequência que verdadeiramente poderiam ser vistos como uma versão resumida de uma série que está a algumas temporadas desenvolvendo suas tramas e seus personagens. Aliados a traem, seus inimigos a apoiam, uma carta na manga surge, outro contratempo aparece; tudo concedendo uma tônica para sintonizar o espectador sob a óptica de Sloane: uma vida acelerada num trabalho de riscos à todo instante, sob a constante ilustração de sua fragilidade psicológica. Infelizmente, cada virada de roteiro soa genérica de outros produtos, em que amontoados de clichês acumulam-se em uma trama de poucas surpresas. A própria Sloane, com seu vício em remédios e sua genialidade zombeteira, parece um pastiche de House que já fora citado anteriormente.





O roteiro peca quando tenta ser algo além de sua protagonista, ao colocar tantos fatos quanto possíveis dentro de um filme que mais parece um acumulado de conceitos subaproveitados. Madden tenta produzir piadas inteligentes nas inúmeras cenas de brainstorming com todos os comandados de Sloane, mas cativar-se por aqueles coadjuvantes parece impensável com o pouco de tempo em cena para suas respectivas construções. Bem como atrair-se pelo desfecho do enredo não linear, com um julgamento envolvendo a protagonista ocorrendo em paralelo ao caminho que Sloane trilhou para ali chegar, soa improvável em uma trama batida e com cheiro de cópia.

Entretanto, nesse paradigma de repetições e sensações mistas, Armas na Mesa consegue sua força na atuação de sua protagonista. De fato, Jessica Chastain está espetacular em seu papel, tendo recebido uma merecida indicação ao Globo de Ouro (Melhor Atriz - Drama), com toda sua carga dramática que carrega o filme nas costas. Com certeza, eu assistiria uma série de Elizabeth Sloane, ou melhor, assistiria Jessica Chastain salvando o que poderia ter sido completamente vazio. Pelo menos foi mais um episódio da semana razoável.

Nota: 7,0 / 10


Trailer:


Entrevista com Elenco:


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