Oscar 2017 | Análise da Premiação de Moonlight: Sob a Luz do Luar

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Matheus R. B. Hentschke

Seria natural começar a narrar a temporada de premiações que culminou no Oscar 2017 pelo início, ou seja, pelas premiações de sindicatos e etc. Porém, analisar a vitória de Moonlight: Sob a Luz do Luar e seus pares na principal cerimônia do cinema sob a óptica restrita de antecedentes e de estatísticas de outras premiações soaria como uma simplificação excessiva.

É preciso olhar para a história tanto geral quanto cinematográfica para compreender o quanto o Oscar 2017 deveria ficar marcado mais pelos seus méritos, do que pela sua suposta gafe final. Mas, também serve como um bom ponto de partida destrinchar o dito e o não dito por Barry Jenkins na hora em que ele e seu elenco sobem ao palco para receber o prêmio de melhor filme e o diretor profere a frase da noite: "To hell with dreams. This is true." Em uma tradução literal: "Para o inferno com os sonhos. Isso é verdade."


Talvez essa frase tenha sido a melhor maneira de ilustrar aquela cena singular de entrega, devolução e entrega novamente de Oscar de Melhor Filme, na qual o filme de sonhos realmente foi preterido em preferência à obra que retrata a vida real. Parafraseando Jenkins com uma interpretação externa ao conteúdo proferido: "Para o inferno La La Land e seus sonhos enlatados. Moonlight é verdade." 




Contudo, possivelmente a melhor e mais justa interpretação para a frase de Jenkins é relacioná-la com as dificuldades passadas por ele ao longo de toda a sua vida e de seu colega roteirista em Moonlight, Tarell Alvin McCraney, bem como de todos os negros que moram na América. É sobre essas dificuldades que se trata a obra vencedora do prêmio de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante e que se resume a 89ª edição do Oscar. 

Agora, finalmente a Academia acordou para a diversidade que existe não só nos Estados Unidos, mas também em todo o mundo. Chega de indicar e premiar filmes com negros quando retrata apenas a escravidão, caso contrário, outros dramas premiados serão o feitos apenas por brancos. Basta de indicar Eastwood, Scorsese, Hanks pela enésima vez, quando há a possibilidade de salientar, de destacar o novo, o que precisa ser posto em destaque. É sobre isso que essa edição do Oscar ficará marcada: como a vez em que a diversidade imperou na cerimônia e o que se viu foi uma das noites da premiação mais calorosas e cativantes da história.

Mas, alguém pode dizer: "foi um fiasco, olha a gafe no final..." Até mesmo aquele erro serviu para mostrar virtudes. Virtudes como a do produtor de La La Land, Jordan Horowitz que em uma atitude de nobreza e de liderança chamou os envolvidos pela produção de Moonlight para subirem ao palco pela verdadeira vitória. Não só esse momento soou emblemático, mas a passagem do troféu para Moonlight teve um caráter simbólico, como o de um rompimento com o que sempre ocorre na morna premiação do Oscar, que nunca inova e premia só o óbvio, o que segue a cartilha. Naquele momento, Barry Jenkins e seu elenco quebraram a barreira engessada e espessa da Academia, que após anos começa a valorizar o que sempre deveria ter sido valorizado: o ser humano em todas as suas formas e procedências.



Apesar de não ser uma obra à prova de defeitos, parabéns à justa vitória de Moonlight: Sob a Luz do Luar. Que esse Oscar 2017 não tenha sido apenas uma exceção após a cerimônia anterior e a crítica ao OscarsSoWhite. Que a diversidade impere nas próximas edições.

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