Elektra Assassina | Crítica

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Matheus R. B. Hentschke

Após ter tido a satisfação de ir à Comic Con Experience 2016 (segundo ano que vou ao evento) e de ter conseguido o autógrafo de Bill Sienckiewickz (cujo sobrenome é tão difícil de pronunciar e de escrever que o próprio artista concedeu um sketch, em uma palestra, para quem conseguisse soletrar seu nome corretamente), aqui está a análise de uma hq advinda da década - considerada por muitos - o apogeu técnico dos quadrinhos, ou seja, a inesquecível década de 1980. 

Mais do que uma arrebatadora história escrita pelo lendário Frank Miller e uma incrível arte desenhada por Sienckiewickz, Elektra Assassina traz todo um pano de fundo político, que se passa durante a Guerra Fria, que evidencia a opinião de seu autor sobre o tema. Dividindo-se em dois polos, Miller consegue não só denunciar a política externa dos Estados Unidos - na América Latina - de derrubar governos democráticos nacionalistas, instituindo governos ditatoriais pró-EUA, ao mostrar a intervenção de um embaixador americano e da Shield no país fictício de San Concepción; quanto também ironizar a disputa entre republicanos (com um presidente que remete a um Nixon sempre prestes a apertar o botão das bombas nucleares) e democratas (com o candidato Ken Wind sempre se utilizando de um falso discurso agregador, com o intuito de apenas ludibriar seus eleitores para chegar a Casa Branca e ser igual ou, até mesmo, pior que seu adversário político). 

Em meio a toda essa riqueza de alegorias, Miller ainda consegue abordar temas que estiveram presentes em outras de suas obras, como ciborgues e monstros, associando o fantástico com a sua visão de contexto sócio-político da América. Entretanto, o valor de Elektra Assassina encontra-se primordialmente no espaço individual, ou seja, em sua protagonista e na visão compartilhada, pelos demais personagens, acerca da letal Elektra Natchios. O autor consegue mostrar todo o respeito e admiração que possui em relação a essa femme fatalle ao estruturar o enredo para conferir uma aura mística, lendária à assassina, que chega a desaparecer por uma quantidade razoável de páginas, a fim de elevar seu status de um ser inigualável, mítico.

Além disso, a relação existente entre Elektra e todos personagens que passam por seu caminho é valoroso. Pavor, admiração e incapacidade de ação é um dos sentimentos provocados pela assassina em todos aqueles que ela considera como inimigo. No entanto, o único contato próximo ao de uma aliança existente na vida de Elektra, está em sua relação com Garrett, agente da Shield, que paulatinamente vai sendo destruído e manipulado por ela, mostrando toda a aura de sensualidade e dominação exercida por uma personagem complexa e de interações verbais econômicas.

Em suma, Frank Miller de fato produz uma pérola repleta de metáforas e de ironias em mais uma relevante contribuição sua à nona arte, porém seria uma injustiça atroz não conferir a mesma importância, nesse trabalho, a atuação do artista Bill Sienckiewickz. Sua arte expressionista concede a Elektra Assassina um aspecto duro, por vezes, sujo de uma trama que aborda temas que casam perfeitamente com essa atmosfera. Ao mesmo tempo, Sienckiewickz consegue ilustrar poder e sensualidade na sua protagonista, com artes arrojadas e memoráveis. Realmente foi um prazer ter conhecido esse artista educado e agradável com os fãs, porém, mais do que isso, um nome lendário dos quadrinhos.

Nota: 9,0 / 10

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