De Volta ao Jogo (John Wick, 2014) | Crítica

21:47:00



Matheus R. B. Hentschke


É curioso perceber que atualmente, com efeitos visuais cada vez mais acessíveis às produções dos mais diversos calibres, está difícil surpreender e cativar o público com sequências de ação. Ridley Scott, em entrevista para promover Alien: Covenant, explica que assustar hoje em dia é um ofício bem mais trabalhoso do que foi outrora, como na época do lançamento de seu Alien: O Oitavo Passageiro. Mas, tal fato encontra suportes coerentes a serem explicitados: quantas vezes o espectador foi deparado com a destruição massiva de cidades (leia-se Nova York como exemplo) nas mais diversas produções? Em quantos filmes já apareceram sequências de lutas e tiroteios de escala crescente em grandiloquência?

Seriam inúmeros os exemplos os quais praticaram tais artifícios sendo bem sucedidos, como em O Dia Depois de Amanhã, na Trilogia Senhor dos Anéis e na Trilogia Matrix, como também são incontáveis os exemplares que auxiliaram na banalização do clímax com o uso da ação, como em Triplo X, Busca Implacável 3 e Transformers. É exatamente nesse quesito, ou seja, no intuito de retomar a qualidade, a gravidade nas sequências de ação, é que John Wick (preguiçosamente traduzido como De Volta ao Jogo para o Brasil) entra para se destacar como um projeto de pretensões modestas, mas que alcançou muito mais devido à sua capacidade em entregar um excelente filme de vingança recheado de violência.


John Wick (Keanu Reeves) é um ex-matador da máfia que resolver ir à caça do grupo ao qual trabalhava, após o filho - Iosef (Alfie Allen) - de seu antigo chefe - Viggo (Michael Nyqvist) - ter roubado seu carro e assassinado seu cão, ambos pertences que lembravam Wick de sua recém falecida esposa. Com uma frieza e uma vontade implacável, como é esperado de um bom assassino da máfia nos cinemas, John Wick sai de sua aposentadoria matando a sangue frio todos aqueles que se colocarem em seu caminho. E que caminho violento esse.


Em diversas locações, em sua casa, na boate Red Circle e entre outros, os diretores Chad Stahelski e David Leitch, ambos conhecidos dublês de Hollywood que inclusive trabalharam com Keanu Reeves em Matrix, optam por entregar sequências de ação memoráveis. Seja com tiroteios intensos, seja com lutas mortais, a película tem como seu cerne trazer esse sentimento empolgante e satisfatório de se assistir a uma eloquente batalha até a morte com um anti-herói que até se fere, porém é irrefreável em sua sede de vingança e, como não poderia deixar de ser, o melhor no que faz.

Compreendendo perfeitamente o material que tem em mãos, a dupla de diretores (sendo que Leitch não foi creditado devido às rígidas normas da DGA) ainda coloca sutis elementos de paródia dos filmes dos anos 80 em sua empreitada que bebe muito dessa fonte, mais nítido nas cenas em que o protagonista se encontra no hotel e nos bares exclusivos para hitmen como ele. Com um background econômico, ainda que instigante, De Volta ao Jogo prima pela manutenção da atmosfera de suspense em torno de John Wick, entregando pequenas informações, a fim de construir o mito acerca do personagem, que apesar de seu ar distante, torna-se incrivelmente interessante devido a esse mistério constante que o permeia.


A história segue com um enredo simples, clássico de vingança em que o espectador é guiado a acompanhar se o protagonista sairá vitorioso em sua jornada ou não. Entretanto, o que torna a película bem executada e totalmente acertada é o fato de aliar a criação de um universo com muitas camadas a serem descobertas, com lutas excelentemente coreografadas, assim como todas as cenas que envolvem a violência que ronda a obra. É um feito raro hoje em dia conseguir conciliar todos esses recursos, uma vez que os blockbusters médios não conseguem nem cativar pela sua história, nem pelas suas cenas de efeitos hiperbólicos.

Por fim, é preciso salientar dois aspectos que enriquecem De Volta ao Jogo e o elevam como uma grata surpresa: Keanu Reeves e Tyler Bates. Reeves fazia anos que não emplacava em um papel com tamanha personalidade quanto esse. Mesmo com suas limitações de atuação, o papel de John Wick cai como um perfeito type casting para Keanu Reeves, que consegue criar um personagem já memorável. Para auxiliar o protagonista em sua sede de vingança e a película como um todo a ser uma nova franquia de sucesso, a trilha sonora de Tyler Bates engrandece em muito De Volta ao Jogo que tem tudo para vir com mais sequências de sucesso.

Nota: 8,5 / 10

Trailer:


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